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O Benfica e o 25 de Abril: A luta silenciosa do clube do povo contra o regime

25 de abril de 2025 por
O Benfica e o 25 de Abril: A luta silenciosa do clube do povo contra o regime
Grito de Golo

A ligação entre o Sport Lisboa e Benfica e o 25 de Abril de 1974 é profundamente simbólica. Ao longo do Estado Novo, o Benfica foi muitas vezes apontado — erradamente — como o “clube do regime”. A verdade, sustentada por documentos e testemunhos históricos, mostra o oposto: o Benfica foi um clube que viveu sob vigilância, foi condicionado, e resistiu silenciosamente à máquina de propaganda salazarista.

⚠️ Mito vs Realidade: O Benfica não foi o clube do regime

Apesar da narrativa popular, Salazar nunca foi benfiquista. Era adepto da Académica de Coimbra, e a sua ligação ao futebol era mais estratégica do que passional.

✅ Exemplo real:

  • O Sporting beneficiava de apoios estruturais e institucionais. Muitos dos seus dirigentes e treinadores eram próximos da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa.
  • Em contrapartida, o Benfica, com raízes operárias e populares, era visto com mais receio pelas autoridades — por ser difícil de controlar.

🛑 Como o Benfica foi prejudicado pelo regime

1. PIDE infiltrada no clube

Vários sócios e dirigentes benfiquistas, entre eles o ex-jogador e treinador Rogério Pipi, foram vigiados pela PIDE, por posições críticas ao regime ou ligações a movimentos de oposição.

Havia medo de que o estádio servisse de “palco” para manifestações encobertas.

2. Censura na imprensa

Mesmo quando ganhava títulos europeus, como em 1961 e 1962 com Eusébio e Coluna, a imprensa oficial atribuía o sucesso ao "espírito nacional" e não ao mérito do clube.

Em jornais como o Diário da Manhã, controlado pelo regime, as vitórias do Benfica eram despolitizadas e pouco exploradas.

3. Viagens bloqueadas ou controladas

Durante a presidência de Maurício Vieira de Brito, o Benfica enfrentou restrições burocráticas para viajar para jogos europeus, e as deslocações tinham de ser comunicadas à Direção-Geral de Segurança.

4. Pressão nas eleições internas

Algumas eleições no clube foram objeto de suspeitas de intromissão política, com o regime a favorecer candidatos mais “conservadores” e “não conflituosos”.

🎵 O hino censurado: “Avante, Avante p'lo Benfica”

O hino original do Sport Lisboa e Benfica, intitulado “Avante, Avante p'lo Benfica”, foi composto em 1929 por Félix Bermudes (letra) e Alves Coelho (música), por ocasião do 25.º aniversário do clube. A canção exaltava os valores de união, esforço e glória, refletindo o espírito combativo e popular do Benfica.​

Durante o regime do Estado Novo, o hino foi alvo de censura. A palavra “Avante”, presente no título e no refrão, era associada ao jornal “Avante!”, órgão oficial do Partido Comunista Português, o que levou o regime a considerá-la subversiva. Consequentemente, em 1942, o hino foi proibido de ser executado publicamente. 

Em resposta à censura, o Benfica adotou, em 1953, a canção “Ser Benfiquista”, escrita por Manuel Paulino Gomes Júnior e interpretada por Luís Piçarra, como hino alternativo. Esta nova composição, embora não oficializada como hino do clube, passou a ser utilizada em eventos e jogos, substituindo o original censurado.

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim ao regime ditatorial, o hino “Avante, Avante p'lo Benfica” voltou a ser reconhecido e valorizado pelos adeptos, simbolizando a resistência e a identidade democrática do clube.

📅 25 de Abril: O Benfica liberta-se

A manhã do 25 de Abril de 1974 foi recebida com alívio no Estádio da Luz. Vários jogadores e antigos dirigentes, incluindo Álvaro Magalhães e Humberto Coelho, mais tarde revelaram que muitos elementos do clube simpatizavam com os ideais democráticos, mas tinham medo de represálias.

Com a queda do regime:

  • A censura nos media desapareceu
  • As eleições internas tornaram-se mais transparentes
  • O Benfica passou a ser mais internacional, sem barreiras políticas

❤️ O Benfica e os valores de Abril

Desde então, o Benfica nunca deixou de mostrar o seu compromisso com a liberdade, igualdade e mérito. Em várias ocasiões, o clube fez questão de se associar às celebrações do 25 de Abril, com:

  • Minutos de silêncio e faixas em jogos
  • Exposições no Museu Cosme Damião
  • Parcerias com instituições de memória histórica